Saturday, October 13, 2007

Talento em Família - Flora Purim & Eyedentity

Artigo escrito por Arnaldo DeSouteiro em 22 de Março de 2001 e publicado originalmente no jornal "Tribuna da Imprensa"

Talento em família
Arnaldo DeSouteiro


Dos irmãos Hank, Elvin & Thad Jones, adeptos do “cada um na sua”, ao poderoso clã dos Marsalis, na base de “um por todos, todos por um”, a comunidade jazzística já conheceu inúmeros casos de talento em família. Sem contar as igualmente produtivas associações matrimoniais, de Shirley Scott & Stanley Turrentine a Carla Bley & Steve Swallow. Dois recentes lançamentos mostram que um casal brasileiro há muito consagrado – Flora Purim & Airto Moreira – apresenta agora uma legítima herdeira de seu talento: a filha Diana Moreira. Que, por acaso, estréia ao lado do marido, Krishna Booker, filho do baixista Walter Booker e sobrinho de Wayne Shorter. Felizmente, com muita criatividade, ousadia e personalidade, sem nenhuma trama na jogada.

Emoções acústicas
Depois de um período no selo inglês B&W, pelo qual lançou o abrasileiradamente irregular “The flight” e o fantástico petardo acid-fusion “Speed of light”, Flora Purim reaparece em nova gravadora, a californiana Narada Jazz, com o abrasador CD “Perpetual emotion” (54m03s). Projeto idealizado pelo engenheiro de som Dom Camardella, produzido por Airto Moreira, trata-se de um disco propositalmente menos arrojado esteticamente, calcado nos fundamentos do mainstream-jazz e inteiramente acústico. Nada de DJs, nada de formações orquestrais, nada de lembranças da fase eletrificada (e eletrizante) da Milestone, nos anos 70.

Flora segura a onda de “Perpetual emotion” apenas com um quarteto. Recrutou dois músicos competentes – o pianista Christian Jacob e o contrabaixista Trey Henry – que trabalharam com Anita O’Day em “Rules of the road”, fiando-se na infalibilidade do cônjuge Airto (que prazer ouvi-lo não apenas na percussão, mas mostrando também toda a sua verve como um dos maiores bateristas do mundo) e valendo-se dos solos irretocáveis do saxofonista/flautista Gary Meek, arranjador da maioria das faixas. Para adicionar um sabor extra em alguns temas, foi convocado o violão do velho amigo Oscar Castro-Neves, que havia gravado com Flora no antológico “Stories to tell” em 74.

As baladas são um show à parte, especialmente “My ship”, disparado o ponto alto do disco. Perfeita da introdução (Gary arma um naipe de sopros, na base de overdubs, incluindo flauta e clarone) à última nota, o clássico de Kurt Weill com letra de Ira Gershwin, composto em 1941 e imortalizado jazzisticamente em 57 por Miles Davis & Gil Evans no “Miles ahead”, recebe uma leitura comovente, incluindo uma aula de fraseado sem afetações. Flora prossegue irrepreensível em “Search for peace”, de McCoy Tyner (embora não superando o registro anterior, com George Duke & Ron Carter em “Stories to tell”) e “Crystal silence”, de Chick Corea.

Gravada originalmente como tema instrumental, em 72, no disco de estréia do grupo Return to Forever para a ECM, “Crystal silence” surge com a bela (porém pouco conhecida) letra de Neville Potter, descoberta por Mark Murphy no disco “September ballads” de 87. Sem baixo ou bateria, apenas com o arsenal percussivo de Airto colorindo a faixa. Antigos temas da própria Flora – “San Francisco river”, “Escape “ e “New Flora”, este rebatizado “Flora & Airto” por questões editoriais – são devidamente jazzificados, com a cantora volta e meia optando pela vocalização sem palavras, arte na qual permanece inigualável graças à alta dose de sensualidade injetada nesta especialidade. Casos de “Journey to Eden” e “Airto’s jazz dance”, um bop turbinado que usa, como ponto de partida, a frase final do célebre “Tombo in 7/4”.

Em português, rolam o samba-canção “Saudade” (composição de
Cesar Saud-Abdala & William Xavier Moreira dedicada ao bailarino Lennie Dale, com arranjo assinado por Cesar Camargo Mariano), um duo com o violão de Oscar Castro-Neves em “Carinhoso” (Pixinguinha/Braguinha), e a primeira parte da bossa-jazz Jobiniana “Fotografia”. Também com arranjo de Oscar, recebe o reforço do grupo vocal OK Corral Choir entoando a letra em inglês de Ray Gilbert. Emoção perpetuada com a devida sofisticação.

Trip eletrônica
Enquanto a mãe busca agradar o consumidor americano de jazz, hoje mil vezes mais conservador do que nos anos 70, a filha Diana Moreira dispara toda a sua munição para cima do público europeu. E o faz com pontaria certeira, debutando como líder no CD “See” (52m37s), bancado pelo selo – inglês, claro – Electric Melt, subsidiário do conglomerado Melt 2000, o novo nome da antiga companhia B&W. Isto mesmo, a ex-gravadora de Flora. Mas, nem ela nem Airto participam do disco. Diana, de 28 anos, e o marido Krishna Booker conceberam tudo sozinhos, no estúdio da casa onde moram em Hollywood.

Quer dizer, quase tudo. Rashid (filho de George) Duke trabalhou como engenheiro assistente e compôs/produziu/programou/tocou teclados no trip-hop “Eternal”. Outra faixa instrumental, “Get to the end/Reach the beginning”, contou com berimbau e surdo manuseados por Amén Santos, somados a sinos sampleados, sobre os quais a límpida voz de Diana flutua fraseando como um trompete. E o baixista Gary Brown deu sua contribuição em “ZS moothe”, com sons de vibrafone e scratch a cargo do DJ Formiga, perdão, DJ Ant. Impossível não lembrar do Massive Attack.

Alguns esclarecimentos são essenciais. Embora seja o centro de gravidade (e de atenções) do disco, Diana não tem seu nome citado na capa. Preferiu atribuir a paternidade do CD ao duo (ou será projeto?) batizado de Eyedentity, num esperto trocadilho com o antológico álbum “Identity” do Pai Airto para a Arista em 75. Mesmo no livreto, usa o nome artístico de db, abreviatura em inglês do termo decibéis! O companheiro Krishna também vai de pseudônimo, The Factor, assinando a maior parte das excelentes programações.

Sempre fazendo predominar um clima dark sob medida para o público clubber, db e The Factor evocam influência de Bjork, transfigurada por uma batida funk, no primeiro single, “Heavy interference”. A despeito da genial arte gráfica de Rafael Wainberg, usando grafites de Factor, a ficha técnica troca a ordem das faixas, confundindo “R U afraid” (leia-se Are you afraid, afinal Prince fez escola!), marcada por uma levada chegada ao Olodum, com “7th dimension”, alucinógeno hip-hop impregnado por singelos sons de celesta e com letra quilométrica desfiada, por Factor, em forma de rap.

Diana dá o troco dominando a cena na engenhosa arquitetura de “Too real”, na qual encaixaram um samba que aparece e desaparece em passes de mágica, com outro rapper de nome singelo, The Dream, marcando presença. Depois das cordas lembrando mellotron, “Opium light” traz mais uma aula de sampleagem, incluindo baixo acústico, violino e berimbau, estimulando a vocalista a um show de fraseado rítmico, unindo a herança jazzística da mãe com o gingado do pai. Presente, aliás, através de efeitos vocais sampleados na faixa “Terra mãe”.

Única música não-inédita do CD, “Terra mãe”, composição de Factor & db gravada previamente no álbum “Last journey” do grupo Fourth World liderado por Airto & Flora, sintetiza o espírito (em bom duplo sentido) do trabalho. Cosmopolita, original, surpreendente, sem renegar as origens. Como diz a letra: “Eu sou filha de Umbanda/Vencedora de demanda/Meu pai é filho de Xangô/Mamãe é filha de Iemanjá/Se perguntarem quem eu sou/Quem manda em mim é Oxalá/Olha que está chegando a hora/Para cumprir minha missão”. Tomara que este monstro, chamado mercado, entenda o recado.

Legendas:
“Flora Purim lança seu disco mais jazzístico, interpretando baladas com categoria inigualável”
“Diana Moreira, filha de Flora & Airto, investe em um som dance de atmosfera soturna e grooves hipnóticos”

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Eyedentity are here. Not so much a group as an ever-changing collective consciousness, comprising the talents of 'coming and going' featured artists. In short, an ever-evolving entity, the central nerve centre being The Factor (son of Jazz bassist Walter Booker and the nephew of Jazz saxophonist, Wayne Shorter) and dB (daughter of vocalist Flora Purim and percussionist Airto Moreira).The combined talent of these artists produced this excellent debut album released in May 2000. Taking trip-hop into unchartered territory 'See' combines a variety of musical flavours and multicultural influences to yield something a little more hop than trip, infusing the genre with a new perspective. Dissolving categorical boundaries and pushing ahead of populist trends Eyedentity are eclectic, infinitely inventive, and with another album in the pipeline definitely one to watch.

Eyedentity is the brainchild of Diana Moreira Booker, aka dB (Decibel) and her husband Krishna Booker. Born in the summer of '97 this musical life form has developed combining powerful vocals with innovative and experimental beats, bound together by the couple's musical ingenuity and programming expertise. A true creative collective, Eyedentity changes shape and form with the coming and going of the various featured artists. It's evolution however is dependent on the constancy of both Diana and Krishna who form the band's nucleus. Krishna Booker is the son of Jazz bassist Walter Booker and the nephew of Wayne Shorter. His musical partner and beloved is his wife Diana, daughter of vocalist extraordinaire Flora Purim, and world famous percussionist Airto Moreira. Both were born in NYC and had an intensely musical and gypsy-like upbringing travelling with their families. Their parents met and became firm friends when Airto and Flora moved to the States to pursue their musical careers. This resulted in the children becoming childhood playmates.

However due to travelling and moving to the West Coast their time spent together became fewer and farther between as they grew up, and it wasn't until 1992 that they met again becoming instantly attracted to each other as adults. Krishna Booker's musical career took off at the young age of thirteen. He had begun to show such considerable talent and musical potential that Herbie Hancock and Wah Wah Watson (friends of the family), along with his uncle began supplying him with studio equipment to see what he could do. Already an accomplished rapper - "Human Beatbox", he started making beats for himself and his partner Scott Febles (The DREAM), and they soon began performing at parties, benefits and events such as "the Taste of L.A." and "the Garlic Festival".

In 1993 they took part in a West Coast project entitled COLLECTIVE THOUGHTS which sold locally and in Atlanta. Krishna’s emcee talent along with his musical talents on keyboards and percussion as well as engineering and production expertise became widely recognized. D. Booker aka Decibel began her musical career in the belly of her mother, touring the world with Chick Corea's Original Return to Forever. Growing up on the road it wasn't long before she was dancing, singing background vocals, and playing percussion with her parents' group. At the age of 14 she started songwriting, with some of her compositions ending up in her parents' repertoire. As she matured she took her ability and experience and ventured out alone writing and singing her own material – stepping on to the hip hop scene of LA. At the age of 19 she fell in love with Krishna Booker, meeting at one of her parents Fourth World shows in which she was singing backing vocals. Before long the two realised their professional musical compatibility and in 1993 they moved in together forming a powerhouse writing and production team that the Los Angeles scene wasn't quite ready for at the time. Through their ongoing work with Flora and Airto, MELT label owner Robert Trunz noticed their unique versatility and potential. After utilising them on a few smaller projects, he requested that the duo create a project geared more towards the underground Trip Hop/Drum ‘n’ Bass scenes.

Recruiting the help of long time friends The DREAM, and producer, Rashid Duke, son of pianist/producer, George Duke, the combination of their different flavours yielded something a little more 'hop than trip', infusing the scene with a new perspective. This resulted in their debut album See released on MELT internationally in May 2000. See incorporates sounds from around the world, pulled together by hip hop,trip hop and acid jazz beats. The lyrics deal with both the physical and metaphysical elements of the human condition, touching upon many aspects of life such as inner dignity and modern day spirituality.

Their second album is called Perfect My Craft. In their own words, “this is a challenge of self discovery for the hard core Hip Hop head and acomforting, inspiring journey for the open minded listener.” Fusing the elements of Hip Hop, Trip Hop, Funk, Afro-Brazilian, classic & Latin Jazz, the project's subject matter varies from the classic underground "verbal battle" to empathic odes of frustration and sadness glazed with the salvation of improving ones outer existence by working on the innerself. Avoiding musical cliches and categorisation this inventive music is deep and provocative and aimed at the thinking listener.

Alongside their work as Eyedentity Krishna and D have also produced tracks for local upcoming underground West Coast hip hop artists such As Hazsmat, Da Devious One, Subdivision and Medusa. Factor, Eternal Ra One an DJ Cass have collaborated on a track for the up and coming Underground female freestyle sensation Da Devious One called Verbal Essentials. The two also often collaborate with Wah Wah Watson on several projects for His website. As partners Rashid,Krishna and D are always producing for each other’s solo projects. On the MELT label they have assisted with programming and sequencing as well as playing on a number of Airto and Flora's projects including Fourth World. They have co-composed tracks for Airto’s solo album Homeless, for Flora’s album Speed of Light as well as contributing to her album called "Flora sings Milton Nascimiento", D also provided the vocals whilst Krishna rapped on Jose Neto’s spectacular album Neto.

They are touring the EYEDENTITY project live with Andre De Sntanna on bass, Sandro Rebel on Keys, Grecco Buratto on guitar, Sandro Feliciano on drums, Marcos "Gibi" Dos Santos on percussion and Chris "Bob NeckSnapp" Gamez on turntables. Eyedentity brought down the house with Airto Moreira and Wah Wah Watson on stage as their guests, proving that their live performances are every bit as polished and spectacular as their recordings For more information regarding releases, touring, compositions,production, remixes, etc, contact them at Management info for Eyedentity Osiris Munir President/Ankh Entertainment One/Big Daddy Management 9663 Santa Monica Blvd. #151 Beverly Hills, California 90210

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